segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Monólogo de um Confuso



Definitivamente não me reconheço. Penso até que não me conheço. Me vejo em certas coisas meio como uma contradição, pois se não me reconheço ou conheço, não sei se realmente me vejo em algo. O caso é o seguinte: não sinto que possuo o que aparentemente é meu.
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Já te passou aquela sensação de que você não é o que parece estar sendo? Por favor, se você leu o texto anterior, não pense que estou num momento depressivo. Digamos que me encontro imerso num período reflexivo, onde os conceitos podem ser revistos, repensados ou até reconstruídos. Não estou em crise de identidade. Posso não me reconhecer ou pensar que não me conheço, mas sem dúvidas, tenho plena certeza daquilo que sou.
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O que eu quero tratar aqui é do vazio da existência. A vida tem-se tornado vazia no sentido de oferecer suporte. Tudo está na escala de cinzas. O mundo, a sociedade, as pessoas, os carros, as ruas, as paredes, o céu, enfim, tudo está ficando cinza, tudo está virando cinza. Estamos num fogaréu! Queimando feito pedaços de madeiras em tempo de São João. Estamos virando cinza. Restos daquilo que um dia teremos chamado de humanidade.
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Parece-me que tudo funciona ao contrário. Já não consigo mais aceitar que tudo tem uma razão para acontecer. Eu entendo, mas não aceito. Por isso digo que pareço que sou, mas na verdade, não sou. É uma pseudoverdade que assumiu um valor positivo por uma mera questão de sobrevivência. Me comporto de várias formas, e é nesse momento que enxergo o perigo que é a necessidade de auto-afirmação.
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Auto-afirmação é uma ação reflexiva que não serve para nada. É como estar só no meio de uma multidão. Não é suficiente se conhecer, pois se não és conhecido, de nada adiantar conjugar o verbo “ser”. De que vai adiantar? Conjugar o verbo “ser” é sinônimo de Zé Ninguém. Zé Ninguém não passa de um Zé Que Não É Alguém. Há Zés Ninguéns que são Alguéns à força, assim como há Alguéns que são Zés Ninguéns sem muito esforço. Ou seja, que diferença faz ser alguém ou não? Ela reside no prisma com que é vista. Existe uma imensa diferença entre considerar-se e ser considerado. Mas onde quero chegar? Ledo engano pensar que preciso de um objetivo para expressar-me. O pensamento não tem início, não tem meio, não tem fim. O pensamento se auto-afirma por si só, pois é a base da afirmação.
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Veja:
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Reconhecer;
Conhecer;
Ser;
Existência;
Vazio;
Reflexão;
Pensamento.
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Quando Sócrates afirmou que “só sei que nada sei”, ele apenas reconheceu que conhecia os limites do que ele era, ele sabia que era um ser cuja existência se pautava no vazio de compreender o pensamento, de refletir acerca daquilo que vivia.
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Esta foi a causa da sua morte. Morreu porque havia se auto-afirmado. Conhecer-se é o final de linha. É a última parada do ônibus da vida. Conclusão: não leia um texto procurando sentido nele. Apenas busque a razão que o levou a lê-lo. A vida é como um texto. A única diferença dela para este texto, é que não podemos lê-la várias vezes.
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Que final trágico! (risos)

O Melhor Ano




Meu ano de 2009 parece-me não ser meu. Iniciou-se como eu não queria, meus planos de Ano Novo não foram postos em prática. Não pulei três ondinhas, não fiz minha bem sucedida simpatia das moedas, não passei com meus parentes, não vi a queima de fogos, não vi os shows. Foi o Ano Novo do NÃO. Uma negação por excelência.
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Outras probabilidades futuras vêm adiante. Meu mestrado é improvável que se concretize, minha convocação para o concurso passei ainda não veio, minha contratação na empresa que trabalho está meio assim (você sabe o que eu quis dizer! Não diga “assim como?”). Enfim, não sinto que este seja um bom ano. Mas de repente, as coisas podem mudar.
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Este pode ser o ano do meu pai. Uhuuuu! Sim, mas... e eu?
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Sinceridade? Eu não sei. Eu to no famoso bloco do eu sozinho. Me sinto só, me sinto só, me sinto só. Mas e daí? Quem se importa? Antes só do que mal acompanhado. Verdade? Parcialmente. Às vezes, mais vale estar mal acompanhado do que estar só. Vamos, agora, entrar na análise crítica da palavra só.
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Só pode ser indicador de solidão, ou não, e de pouca quantidade. É fator condicionante! Só isso? Simplesmente, só nos diz muito mais do que estamos acostumados a entender. Estar só pode ser um termômetro, um indicador, um referencial para os atos. Atos estes que podem repetir-se ao longo de nossas vidas ou apenas limitá-la ao só indicador de pouca quantidade. Tudo o que fazemos apenas pode servir SÓ para nos mostrar que podíamos ter feito mais, mais e mais. É a mania capitalista: sempre poderíamos ter mais do que temos. Será isto verdade? É só mais que vale?
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Terminei minha análise crítica. Voltando para meu 2009, espero que este seja só mais um ano de minha vida. Só um ano onde eu só tenha motivos para SOrrir, SOnhar, SOmar. Nada de SOfrer, deSOlar, asSOlar. A palavra do ano é SOlidificar. Este é um ano de concretização de SOnhos. Nada de desacreditar ou temer o que de ruim pode acontecer. É fazer a felicidade resSOar gigantemente no mundo.
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Não adianta sofrer com as probabilidades, afinal elas são irmãs gêmeas. Ambas são 50. O que de errado pode dar em nossa vida? Resposta: não tente entender. É tudo SOrte, ou melhor acaSO. Percebeu que essas duas letrinhas combinadas (S+O) que nos remetem a entendimentos negativos encontram-se juntinhas tanto em palavras “boas” como “ruins”? Assim é nossa vida. Não é porque eu acho que meu ano será uma derrota que ele será. Afinal, todo ano quer ser o melhor. Todos nós queremos estar sempre melhores.
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Que este seja o meu próximo melhor ano.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Senhas



Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
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Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
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Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
.
Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas
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O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
.
Eu aguento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
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O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto
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Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem
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Adriana Calcanhoto